A mídia é simplesmente tudo o que vemos na televisão, jornais, revistas e internet. É através dela que temos acesso a toda a informação possível para escolhermos o que pensar sobre um assunto, o que iremos comer, assistir, vestir e comprar.
Mas não para por aí, vamos ver o exemplo da televisão. Sabemos que ela é um meio que além de transmitir informações do nosso cotidiano, também reproduz os comportamentos padrões de uma sociedade e, ao longo das décadas, ela foi uma das maiores responsáveis por nos ensinar e nos formar como pessoas, pois os seres humanos aprendem e reproduzem comportamentos a que são expostos.
Até aí tudo bem, nenhuma novidade, mas será que essa reprodução de comportamentos de fato condiz com a nossa realidade? E se não condiz, o que isso causa?
Too much information...
Antes de tudo, vamos aos fatos: segundo a Organização Mundial de Saúde, o Brasil é o país mais ansioso do mundo, cerca de 19 milhões de pessoas convivem com o transtorno de ansiedade, o que já é classificado como uma epidemia. Já quando o assunto é depressão, cerca de 12 milhões de pessoas foram diagnosticadas, fazendo com que o Brasil seja o país mais depressivo da América Latina.
Nesse cenário, muitos especialistas associam esses índices super altos à crise econômica e ao excesso de uso das redes sociais, mesmo a televisão ainda sendo o meio de comunicação mais utilizado pela população.
Resumo da história, independente do meio utilizado, continuamos sendo expostos a um excesso de materiais que nos ditam como é um modelo de vida bem sucedido, mas como o nosso cenário sócio-econômico não está um mar de rosas, isso se torna muito mais complicado de ser alcançado e acabamos frustrados. Essa é a brecha que nossa saúde mental e autoestima precisavam para ir caindo cada vez mais.
Inclusive, discutimos no MeSeems a relação que o desemprego tem com a Saúde Mental, clica aqui pra ver o post e dar a sua opinião!
A eterna mania de se comparar
A autoestima basicamente consiste numa avaliação subjetiva que fazemos de nós mesmos. Quando enxergamos valor em nossas habilidades pessoais, aparência física, relacionamentos, vida financeira, quer dizer que nossa autoestima está em dia. O problema só começa a aparecer quando comparamos essa avaliação que fazemos de nós mesmos com a de outra pessoa, que normalmente fazemos sem muito embasamento.
Os exemplos mais comuns nos dias de hoje vão desde o corpo das Kardashians e pessoas ostentando o último modelo do iPhone até àqueles filmes americanos em que o protagonista sempre ganha bolsa de estudos para Harvard, e MUITOS outros casos que a mídia nos trás, nos fazem pensar que devemos conquistar essas coisas para nos sentirmos completos de alguma forma.
Tentamos suprir essa necessidade de aumentar nossa autoestima fazendo dívidas enormes para comprar coisas que nem precisamos, entrando em dietas radicais que podem ser extremamente prejudiciais para a nossa saúde, estamos sempre cansados, endividados e insatisfeitos, e essa sensação não vai embora por mais que nos esforcemos.
Somando tudo isso, conseguimos entender bem melhor de onde veio aquelas taxas tão altas de transtorno de ansiedade e depressão que eu falei ali em cima, né?
A própria mídia deve destruir o que criou
Parece dramático, mas é a verdade, precisamos ser ensinados a nos amarmos como somos e a nos orgulhar de nossos esforços pela própria mídia.
Felizmente algumas empresas estão começando a prestar atenção no que está acontecendo com a nossa sociedade e tomando iniciativas responsáveis em prol da saúde mental de seus consumidores.
Um bom exemplo é o da Dove, que já fez diversos comerciais sobre empoderamento feminino com mulheres de todos os biotipos possíveis, criou o projeto Dove pela Autoestima, encabeçado pela visão de construir um mundo no qual a beleza é fonte de confiança e não de preocupação. O objetivo do projeto é ajudar famílias a ensinar as meninas das próximas gerações sobre amor próprio e autoestima.
Quer mais? A Dove também entende que a autoestima e a saúde mental devem ser assuntos tratados desde a infância, então, a marca fez essa parceria com o Cartoon Network e o desenho Steven Universo, que é a coisa mais fofa.
Mas não são só as mulheres e a crianças que estão sendo inclusos nessa conversa.
Por terem sido ensinados a reprimir sentimentos por conta de frases como “homem não chora” e a serem incentivados a comportamentos violentos como forma de demonstrar masculinidade, os homens também estão sendo incentivados a demonstrarem seus sentimentos reais.
A campanha “The Best a Man Can Get” da Gillette foi extremamente debatida no mundo inteiro. A marca criticou uma série de problemas que observa-se no comportamento dos homens ao lidar com mulheres e entre si, e ainda trouxe o questionamento se esse é o melhor que conseguiam ser como pessoas. A campanha foi recebida com críticas pesadíssimas, ameaças de boicote e 85% de dislikes dentre o número total de interações com o vídeo.
No entanto, houve quem se sentisse acolhido e parabenizou a marca por incentivar que seus consumidores tivessem comportamentos mais positivos para servir de exemplo para as próximas gerações, tornando a sociedade melhor.
Esses novos posicionamentos na publicidade estão representando as pessoas como são e levantando discussões sobre como podemos ter comportamentos menos tóxicos para nós e para quem nos cerca, ajudando a criar uma nova geração que se ama, aceita o que sente e tem empatia pelo outro.
Falar sobre Saúde Mental ainda é um tabu
Quem nunca ouviu alguém dizendo “eu não preciso ir ao psicólogo porque não sou louco”?
Por sempre sermos condicionados a transmitir uma imagem de invulnerabilidade e de que estamos sempre 100% alto astral, demonstrar que precisamos de qualquer tipo de ajuda psicológica, é visto com um certo julgamento.
A mídia não costumava retratar personagens com transtornos psicológicos de uma forma muito positiva, esses personagens costumam ser vistos como incapazes e dependentes, pessoas que chegam aos extremos da automutilação ou tentativas de suicídio são alvos de críticas como “só fez isso para chamar atenção” e por aí vai.
Foi o caso da protagonista da série 13 Reasons Why, em que a personagem passa por diversos problemas em meio aos colegas de escola até chegar ao seu limite, o suicídio.
No decorrer da trama, a própria Hannah explica em detalhes o que a fez tirar a própria vida, e nos explica como sua morte afetou as pessoas ao seu redor.
A série foi bastante criticada por apresentar cenas extremamente fortes, que poderiam ser gatilhos emocionais para pessoas que poderiam ter passado por situações semelhantes às de Hannah e principalmente por não ter dado a entender que a personagem tinha uma opção alternativa ao suicídio para solucionar seus problemas.
Mesmo assim, houve quem se sentiu estimulado a procurar ajuda.
Segundo o CVV, desde a estreia do série, os pedidos de ajuda ou de conversa enviados por e-mail aumentaram em mais de 100%, com mensagens mencionando 13 Reasons Why.
Assim como no caso da autoestima, também é papel da mídia desmistificar o que se pensa comumente sobre transtornos mentais e informar como devemos dar apoio a essas pessoas.
Outro ótimo exemplo de como a mídia pode nos informar e ensinar como lidar com adversidades, é a série de comédia “Atypical” que retrata a vida de um adolescente autista que só quer arrumar uma namorada.
Mesmo o autismo sendo um transtorno de desenvolvimento, e não mental, a série nos ajuda a compreender melhor a realidade de outras pessoas e como lidar com elas.
No geral, a série parece não ser muito didática sobre como devemos agir com pessoas que se encaixam no espectro autista, mas mostra bastante o que cerca o dia-a-dia dessas pessoas e de quem está próximo a eles. Os momentos em que Sam demonstra as características de seu transtorno - como a sinceridade sem freio, incômodo com barulhos muito altos, organização excessiva e a interpretação literal de gírias e piadas - fazem com que o espectador se divirta e crie empatia pelo personagem.
Um programa de TV, série ou filme pode reforçar um estereótipo a respeito de algum transtorno, mas, quando é produzido com responsabilidade, pode ser encorajador para que a pessoa procure apoio da família, amigos e profissionais qualificados.
No fim das contas, tudo se trata de suporte e empatia
Infelizmente ainda não tratamos do assunto da forma correta, mas estamos evoluindo aos poucos a cada dia.
Ainda é necessário avançarmos muito no processo de informação, a mídia precisa nos incentivar a falar mais sobre como a saúde mental é importante, como dar suporte para aquele amigo que não consegue sair de casa, a prestar atenção nos sinais que ele passa, assim como também saber identificar esses sinais em nós mesmos.